Vive a vida como a efémera

Curioso com o anúncio da efémera e o conceito de “a vida dura apenas um dia, vive intensamente”, resolvi pesquisar um pouco. A Hexagenia spp nasce de ovos depositados no fundo de rios; no estado de ninfa continuam a crescer em meio aquático durante meses ou anos (dependendo da espécie) até alcançarem o estado adulto, aí sai da água e vive durante apenas algumas horas, no máximo dois ou três dias. Na sua curta vida adulta a efémera voa e reproduz-se ininterruptamente em grandes enxames, sem nunca pousar, sem nunca descansar, sem se alimentar, até morrer de exaustão. Nessa altura centenas de cadáveres acumulam-se no leito de rios e servem de substrato nutritivo para os descendentes. A título de curiosidade estão relatados acidentes causados por verdadeiros massacres de efémeras que se acumulam em estradas ou passeios tornando o piso escorregadio.
Voltando à Vodafone, onde querem eles chegar com o conceito “vive a vida como a efémera”? Estarão eles a propor aos clientes que passem a maior parte da vida enterrados em cadáveres e a comportarem-se como necrófagos alimentando-se dos próprios pais, para depois subitamente deixarem de se alimentar e morrerem numa orgia suicida? Releio as minhas últimas palavras… de que forma “voltei à Vodafone”? Em tudo o que pesquisei não percebo onde entra o telemóvel na vida da efémera. Este conceito de fazer publicidade descontextualizada confunde-me e rapidamente recordo outros exemplos, como o sapo com flatulência do operador de Internet com o mesmo nome, ou os inexplicáveis orgasmos provocados por um champô com aromas exóticos. Já viram se a moda pega? Imagino o próximo anúncio da Optimus… “A galinha-da-índia não tem continência de esfíncteres e defeca sem controlo durante todo o dia… mas pensa que isso a preocupa? OPTIMUS… SEGUE O QUE SENTES”.