Bacalhau à Zé de Pequim

Estou tão desiludido com o meu restaurante chinês preferido. Nem tudo era perfeito, era frequente o rapaz das entregas vir bêbado e urinar na fachada do prédio (nem quero pensar no que fazia antes de entregar a comida) e encomendar era sempre uma aventura. Tinha consciência de que se não percebiam patavina do que dizia, mas (como qualquer português) sabia que a solução é repetir tudo aos gritos. Então lá fazia a encomenda e ouvia um "Tá bem, Xau! Nóis vai já!".

Mas hoje senti que tudo estava diferente quando recebi a minha encomenda de crepe chinês, arroz chao-chao e galinha com limão. O crepe chinês passou a folhado de couve, o arroz passou de miudinho e solto a papa de arroz carolino ou de trincas para periquito, e aquela galinha tenra coberta de uma geleia de limão que adorava, virou panado de frango com uma rodela de limão a decorar.

O toque oriental está a desaparecer, em vez de um chinês pequenote chamado Wong Soku Zinha, quem prepara os pratos deve ser um careca barrigudo, de barba por fazer e camisa de alças chamado Alfredo. Só falta começar a encontrar rodelas de chouriço e azeitonas no arroz, ou então pratos como chop suey de bacalhau e pataniscas de bambu para lhe poder chamar "o primeiro restaurante chinês tipicamente português".